Conforme prometido, segue uma análise sobre os principais movimentos no Retailtech mundial em 2020 (baseado no último relatório da CBInsights), suas tendências e como você pode inovar no Agronegócio.
Apesar dos investimentos, compras e fusões no Retailtech (Startups de Retail, de varejo) em 2020 terem sido muito similares em volume a 2019, o destino do dinheiro dentro dos segmentos que compõe esta categoria mudou bastante. Além das mudanças globais (investimentos na América do Norte caindo e subindo na Europa e África), os grandes investimentos (sem surpresas) foram para os e-commerces e afins. E quando menciono e-commerce e afins, isso quer dizer:
- Empresas que oferecem infraestrutura de plataformas digitais de venda e Shoppings online;
- Empresas de capacitação em e-commerce;
- Empresas que dão suporte logístico e de pagamento digitalizado para e-commerce buscando maior eficiência, transparência e rastreabilidade.
Para nós do Agro que temos poucas empresas atuando no E-commerce, podemos perceber nestes 3 itens, o quanto é complexo montar um e-commerce. Isso por que ainda não citei todos os outros itens desta lista, como:
- Operações e analytics das lojas físicas: para tornar as lojas mais seguras (pandemia) e também para analisar por que os clientes vão até as lojas físicas, para provê-los da melhor experiência;
- Automação e robótica para aumentar a satisfação do consumidor;
- Analytics da compra digital para retirar os atritos e aumentar o engajamento do consumidor;
- Além do pagamento digitalizado, a prevenção de fraudes. E aqui no Brasil eu incluiria a LGPD;
- Melhorias na busca dos produtos: logicamente o consumidor precisa achar fácil o produto/ solução que está procurando. Senão ele desiste da compra ou compra onde encontrar de maneira mais fácil e rápida;
- Armazenamento e entrega on-demand: imagine isso mais automatizado nos distribuidores e cooperativas que armazenam para os agricultores e entregam parcelado? Sabemos que isso garante a segurança e evita roubos nas fazendas. Mas se o agricultor pudesse solicitar as entregas de maneira mais automatizada, isso agregaria muito valor, não?
- Checkout sem caixa: esse é um grande gargalo nos varejos, onde o cliente quer comprar, mas tem que ficar em uma fila pra pagar. O Agro é um B2B, não tem aquela fila de caixa que vemos em varejos B2C (alguns tem sim). Mas o check-out não deixa de ser um setor onde podemos melhorar a experiência dos nossos clientes. Como podemos automatizar e tornar mais rápido e eficiente o fechamento do pedido para nossos clientes agricultores no Agronegócio?
- Last mile delivery: como melhorar a última parte da entrega? A digitalização e informação online dos dados da entrega para os agricultores traz segurança para a compra. Digitalizar isso junto com o armazenamento e entrega on-demand parcelada já seria uma inovação que traria grande diferencial no Agro;
- Marketing digital: esse não vou detalhar, pois já temos muita informação a respeito;
- Financiamento digital: o financiamento tradicional cresceu muito em 2020 e o Agro ainda precisa da automatização e facilitação que os processos online nos dão, também nos financiamentos;
- Otimização dos retornos: avaliar o CAC- custo de aquisição de novos clientes e o valor do tempo de vida do cliente. Utilizar novas métricas que muitas vezes não usamos em lojas físicas, mas que os processos digitais nos ajudam a mensurar e nos tornar mais eficientes;
- Pós-venda e programas de fidelização digitais: os líderes de varejo (B2C) estão investindo em programas de recompensa digitais e adicionando novas vantagens para atrair clientes que estão comprando mais online. Mas será que os clientes do Agro querem receber milhagens ou trocar por produtos que nem sempre precisam?
- Serviços digitais e analytics dos mesmos: além do e-commerce, os canais de venda de insumos agrícolas podem oferecer diversos outros serviços digitais de monitoramento da lavoura para tomada de decisão imediata e também para predição, ou seja, para análise preditiva e decisão futura sobre o que plantar, quais insumos serão melhores usar, etc.
Sabemos que o processo de transformação digital é longo e complexo, vide sistema bancário que começou este processo na década de 90. Também sabemos que ele não tem fim, pois sempre teremos áreas, setores da empresa que precisarão de aprimoramento e digitalização. E também, novas tecnologias surgirão, e precisaremos adotá-las, o que torna o processo de transformação digital contínuo.
Além de contínuo, o processo de transformação digital dos canais de venda de insumos agrícolas (Agri-inputs Retail,AgRetail) pode aprimorar o processo de venda em alguns dos diversos itens acima, sem necessariamente montar um e-commerce. Vemos vários setores que podemos aprimorar nos canais de distribuição de insumos do Agro, antes de pensarmos em montar um e-commerce ou marketplace.
Quando olhamos para todos estes itens de um Varejo B2C tradicional de roupas, eletrodomésticos ou alimentos, vemos o quanto é complexo digitalizar e montar um e-commerce. E quando voltamos o nosso olhar para nós mesmos no Agro, sabemos que a compra de insumos não é só escolher o produto, passar o cartão e receber a mercadoria. O Agricultor quer crédito, assistência técnica, barter, armazenamento de insumos com segurança e entrega parcelada; relacionamento que gere confiança, ou seja, tudo o que os distribuidores já oferecem.
Grandes empresas de comércio digital podem entrar no Agro, mas elas não tem isso que os canais de distribuição de insumos tem. Digitalizar e montar um e-commerce pode ser complexo, mas é muito mais difícil ter crédito, assistência técnica, barter, armazenamento de insumos com segurança e entrega parcelada, e relacionamento que gere confiança.
Agora, imagine esta rede de distribuição de insumos que já tem todos estes pontos fortes, também digitalizada. Será uma fortaleza imbatível. É assim que eu imagino o Agro: o melhor dos canais de distribuição de insumos + o melhor da transformação digital.
E você, já escolheu quais setores da sua distribuição de insumos vai digitalizar? Se você quer trilhar este caminho da transformação digital, me chame. A FRUTO Agrointeligência é sua parceira nesta jornada!
Fabiane Astolpho
f.astolpho@frutoagrointeligencia.com.br
Abaixo, a tradução das conclusões do relatório da CBInsights, que compartilhei no mês passado, e que foi a inspiração do artigo acima.
Resumo das conclusões
Tendências gerais do Retailtech
Os fundos e transações das Retailtechs mantiveram o ritmo ou apresentaram
declínio em relação a 2019: as captações aceleraram na segunda metade de 2020, ultrapassando as captações do primeiro semestre em 31%, atingindo US $ 22,8 bilhões faltando 1 mês para o final do quarto trimestre. Mas em um tumultuado ano para o varejo, as captações totais e as transações nas Retailtech provavelmente ainda estão atrás dos totais de 2019 em cerca de 5% em funding e 8% em transações.
Europa e África atraíram mais interesse de investidores em Retailtech´s: acumulado no ano (YTD), ambos os continentes viram sua maior participação de transações nos últimos 5 anos: A Europa foi responsável por 22% das transações das Retailtechs até agora em 2020, enquanto 3% dos negócios foram na África. A participação da América do Norte nas transações das Retailtechs continuou a cair, para 34% YTD.
O e-commerce impulsionou os investimentos e o valor das unicórnios de Retailtech: o nascimento de unicórnios de Retailtech no segundo semestre de 2020, sem surpresa, se concentrou no e-commerce. Empresas de capacitação em e-commerce, bem como plataformas de vendas especializadas (como farmácias online e sites de revenda), ganharam o interesse dos investidores, bem como avaliações mais altas.
Mega-negócios e Fusões & Aquisições notáveis também se encerraram nos shoppings online: as principais mega-rodadas das Retailtechs (ou transações acima de US $ 100 milhões) no segundo semestre de 2020 foram para empresas que suportam a infraestrutura de e-commerce, incluindo plataformas de e-commerce, logística e pagamentos mais eficientes. Enquanto isso, algumas das fusões e aquisições mais proeminentes têm se concentrado no atendimento online, principalmente entrega de alimentos e produtos de mercearia.
Tendências específicas do setor de Retailtech
As captações das Retailtech in-store aceleraram no segundo semestre de 2020: Os financiamentos acumulados para Retailtech in-store no segundo semestre de 2020 saltaram 152% em relação aos U$ 2,6 bilhões do primeiro semestre de 2020, devido à necessidade de tornar as lojas mais seguras, mais eficientes e mais produtivas ter se tornado ainda mais urgente. Como resultado desse aumento, as captações das Retailtechs tendem a manter-se pelo menos estáveis em 2020 em relação a 2019.
O financiamento do e-commerce também aumentou no segundo semestre de 2020: As captações cresceram 68% para U$ 10,9 bilhões no segundo semestre de 20 (com um mês antes do final do ano) em comparação com o primeiro semestre de 2020. As transações diminuíram ligeiramente no segundo semestre de 2020 em relação ao primeiro semestre, em 6%. Anualizadas, as transações e as captações do e-commerce tendem a permanecer abaixo dos totais de 2019, apesar do investimento contínuo em infraestrutura e ferramentas mais envolventes de compra online do e-commerce, como lojas virtuais.
As captações das Loyalty & Rewards tech´s diminuíram no 2º semestre de 2020: o número de transações na última metade do ano cresceu 48%, mas o financiamento caiu 26% em relação ao 1º semestre de 2020. Os líderes de varejo estão investindo em programas de recompensa digitais e adicionando novas vantagens para atrair clientes que estão comprando mais online.
As captações da Supply chain & Logistics Tech´s cresceram continuamente no segundo semestre de 2020: embora os negócios no segundo semestre de 2020 tenham diminuído 44% em relação ao primeiro semestre de 2020, os financiamentos para as Supply Chain & Logistics Tech´s aumentaram 15%, para U$ 6,3 bilhões. Embora seja improvável que os dólares anuais e negócios no período ultrapassem os totais de 2019, os investimentos continuam a fluir em direção às tecnologias para tornar as cadeias de abastecimento mais eficientes, transparentes e automatizadas.
As transações On-demand e o financiamento diminuíram no segundo semestre de 2020: O financiamento caiu 17% para U$ 4,6 bilhões no segundo semestre de 2020 contra o primeiro semestre de 2020, e as transações caíram 38%. Mas à medida que mais transações mudam para estágios mais avançados, empresas que podem atender às altas expectativas dos consumidores – como hiperlocal, entrega super rápida – estão atraindo mais a atenção do investidor.
Os financiamentos para Delivery de refeições e mercearias se mantiveram praticamente estáveis no segundo semestre de 2020: As captações para empresas de entrega de refeição e mercearias cresceram 1% no segundo semestre de 2020 em relação ao primeiro semestre de 2020, para U$ 4,4 bilhões. O número de transações, por sua vez, caiu 28%. Aparentemente, os financiamentos em 2020 vão manter a estabilidade em relação aos totais de 2019. À medida que os supermercados continuam a aumentar suas operações de mercearias na rede online, o segmento está amadurecendo, principalmente para empresas de entrega. As necessidades específicas de entrega de alimentos em 2020 também estimularam um ressurgimento de kits de refeição.